19 de jun. de 2011

Sobre o Choro e os Chorões¹:


Uma das primeiras formações do Regional Benedito Lacerda: Popeye (pandeiro), Dino 7 Cordas, Benedito Lacerda (flauta), Canhoto (cavaquinho) e Meira (violão).

Definido por Heitor Villa-Lobos como a essência musical da alma brasileira, o choro, ao mesmo tempo gênero musical e forma de tocar, representa o próprio Brasil em toda sua diversidade e virtuosidade. O choro surgiu no final do século XIX como uma das conseqüências artísticas de uma série de fatos importantes.
Segundo TINHORÃO (1991) e CAZES (1998), a abertura dos portos, no início do século XIX, permitiu o acesso da cultura européia, às orquestras, instrumentos e partituras, bem como às danças de salão, que passaram a ser mais intensas. Por outro lado, das práticas musicais que se consolidaram ao longo do século XVIII e XIX, registra-se o chamado “trio de pau e corda” (cavaquinho, violão e flauta, que na época era de madeira de ébano). Desta formação surgiu o choro que, inicialmente, designava essa própria configuração instrumental.
CAZES (1998) afirma que o choro é uma adaptação da polca. O autor aponta, inclusive, uma data para o início de sua história, julho de 1845, quando a polca foi dançada pela primeira vez, no Teatro São Pedro, no Rio de Janeiro. Essa referida data remonta à chegada da polca, que veio da Europa para o Brasil, onde exerceu influência marcante na formação de outros gêneros:

“Assim, se observamos o maxixe brasileiro, a beguine da Martinica, o danzón de Santiago de Cuba e o ragtime norte-americano, vemos que todos são adaptações da polca. A diferença de resultado se deve ao sotaque inerente à música de cada colonizador (português, espanhol, francês e inglês) e, em alguns casos, a uma maior influência da música religiosa. A região da África de onde vinham os escravos também influiu, pois foram trazidas diferentes tradições musicais e religiosas por negros de tribos distintas.” (CAZES, 1998, p. 15)

O referido gênero, ademais, também mistura outras danças de salão européias como valsas e maxixes, além da forte influência dos batuques africanos dos negros escravizados. O músico brasileiro copiava a dança de salão com um sotaque mulato, influência dos batuques, e começava a tocar a música européia com um balanço diferente.

“Ao interpretar de maneira própria este repertório de música ligeira, também sob a influência do lundu e da modinha, os músicos cariocas começam a criar o choro. Em um primeiro momento, o termo serve para designar o “sotaque” carioca emprestado ao repertório de danças européias, referindo-se, ao mesmo tempo, à formação instrumental que tinha por base os violões, o cavaquinho e, comumente, uma flauta ou outro instrumento de sopro solista. Em pouco tempo, o choro constituiu um gênero próprio, porém sempre mutante e apto a incorporar as influências mais diversas, uma vez que carrega, em si, o caráter de ‘maneira’ de tocar” (CAZES, 1999, p.21).

Dentre os principais nomes da história do choro, Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth ocupam lugar importante: foram compositores pianistas contemporâneos do momento inicial do gênero, formando, assim, a chamada primeira geração do choro. Também foram responsáveis pela sua fixação enquanto gênero, pois ambos compuseram peças escritas para piano que tem importante papel na música brasileira, desde que se tornaram famosas, à época, aos dias de hoje, tais como Atraente, Corta-Jaca, Apanhei-te Cavaquinho, Brejeiro e Odeon.
Outros compositores tornaram-se grandes referências da época de ouro do choro, dentre eles Jacob Pick Bittencourt, mais conhecido como Jacob do Bandolim, Waldir Azevedo, Garoto, Zequinha de Abreu, e o célebre Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha. Este último foi figura chave na dimensão dos arranjos para choro, e também por estruturar a linguagem harmônica, os fraseados, contrapontos e, sobretudo, da forma no choro que até hoje o caracterizam e definem como gênero musica.  
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¹Parte do Quadro Teórico do Projeto de Pesquisa intitulado  "O CHORO NA CIDADE DE FORTALEZA/CE: HABITUS E FORMAÇÃO MUSICAL DOS FLAUTISTAS CHORÕES" do músico, professor e pesquisador Patrick Mesquita.

 











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